Quantcast
Channel: Drew Barrymore – Cinema & Debate
Viewing all articles
Browse latest Browse all 3

E.T. – O EXTRATERRESTRE (1982)

$
0
0

(E.T., The Extraterrestrial)

 

Videoteca do Beto #26

Dirigido por Steven Spielberg.

Elenco: Henry Thomas, Robert MacNaughton, Drew Barrymore, Dee Wallace-Stone, Peter Coyote, K.C. Martel, Sean Frye, C. Thomas Howell, Frank Toth, Pat Welch e Debrah Winger (E.T. – voz).

Roteiro: Melissa Mathison.

Produção: Kathleen Kennedy e Steven Spielberg.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido o filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

“ET, o extraterrestre é um filme mágico”. Esta é a melhor definição que consigo encontrar para descrever este clássico maravilhoso. A obra que marcou uma geração e comprovou o enorme talento de Spielberg de uma vez por todas é uma espetacular mistura de suspense, humor, drama e ficção que capta com competência toda a magia que o cinema pode proporcionar, deixando suas belíssimas imagens registradas na mente de cada espectador para sempre.

Um ser de outro planeta se perde na Terra e é protegido por um garoto de dez anos, filho de pais separados, que fará de tudo para evitar que ele seja transformado em cobaia. Enquanto tentam fazer contato para que o extraterrestre volte ao seu planeta, uma forte amizade surge entre os dois.

A figura encantadora do extraterrestre simboliza o amigo imaginário, tão comum na infância, ainda mais em crianças solitárias e carentes. Elliot (Henry Thomas) é uma delas. A separação recente de seus pais é motivo de forte (e óbvio) sofrimento para o garoto e seus outros dois irmãos, Michael (Robert MacNaughton) e Gertie (Drew Barrymore, ainda uma pequena garota). O competente roteiro de Melissa Mathison (que criou ainda a frase “ET, phone, home” que marcou o cinema para sempre) aborda este tema de forma muito sensível, como podemos observar na primeira discussão da família na mesa após o primeiro encontro entre o garoto e o ET (“Papai ia acreditar em mim”). A forte frase do menino provoca o choro de sua mãe (Mary, interpretada por Dee Wallace-Stone) e escancara logo no inicio do filme o problema que aquela família enfrenta. “Ele odeia o México” diz Mary em prantos, mostrando a falta que sente do marido separado (e pai ausente). Em outro momento do longa, Michael e Elliot encontram a camisa do pai e lembram de quando iam aos jogos e ao cinema com ele, reforçando o quanto aquele pai faz falta pra eles.

Sabendo da identificação que aquela situação causaria na maioria das crianças e jovens da época (os anos oitenta viveram um boom de separações de casais, inédito até então), Spielberg mantém a câmera na maior parte do tempo no campo de visão das crianças (a um metro do chão, na altura da cintura dos adultos), o que facilita ainda mais a empatia do público infantil com o filme. Observe, por exemplo, como nunca vemos o rosto dos vários homens que andam pela floresta com lanternas, assim como o das pessoas que rondam a casa de Elliot. Mas o talento de Spielberg não pára por aí. O diretor abusa de lindos planos, como na cena em que Elliot e ET fazem o primeiro contato, com a casa do lado esquerdo e o quarto do lado direito do plano sendo cobertos por uma névoa. Podemos citar também o travelling inicial, descendo das estrelas até chegar à nave espacial, mudando lentamente o tom do céu de preto pra azul, além do plano da cidade toda iluminada do alto do monte onde a nave está aterrissada. Spielberg aproveita ainda para ilustrar o valor da verdadeira amizade, mesmo que esta seja entre um humano e um não humano (neste caso um extraterrestre, que poderia também ser um animal de estimação ou um amigo imaginário). O próprio formato do ET colabora e muito para a identificação com o público. Os olhos grandes e azuis e o coração luminoso transmitem sentimentos e o aproximam demais do espectador. Além disso, quando ET imita os gestos de Elliot, os dois estão criando uma conexão que tornará a amizade ainda mais forte, num momento que lembra a cena de “Tubarão” em que pai e filho fazem a mesma coisa. Elliot e ET sentem sono, fome, se assustam, ficam embriagados e adoecem juntos, o que dá sentido à engraçada cena em que ET vê um beijo na televisão e Elliot beija sua colega na escola. O filme conta ainda com uma flor, que é um inteligente artifício utilizado para sinalizar o estado de saúde (e talvez emocional) do extraterrestre. Com tudo isto, é impossível não se identificar com a amizade entre ele e as crianças (Elliot em especial).

Finalmente, Spielberg se aproveitou também do extraordinário desempenho dos atores mirins para alcançar sucesso absoluto, dando liberdade total para que eles desempenhassem seus papéis da forma mais livre possível, resultando em atuações maravilhosas e muito realistas. Henry Thomas está muito bem como Elliot, o melhor amigo de ET. Repare sua ótima atuação quando está na cama fingindo ter febre para ficar em casa com o amigo extraterrestre. No momento em que sua mãe pega o edredom, ele pensa que o ET está ali e mostra sua aflição de forma muito convincente. Quando ela sai do quarto bagunçado pela chegada do extraterrestre, ele ergue as mãos e resmunga, demonstrando seu alívio pela saída da mãe e, ao mesmo tempo, sua irritação pela demora dela pra sair de lá. Drew Barrymore está encantadora como a pequena Gertie. Suas falas são sinceras e inocentes, como é de se esperar vindo de uma criança tão jovem. Quando o ET fala pela primeira vez, Gertie quer mostrar para sua mãe, mas ela ignora a filha e sequer nota a presença dele na cozinha. Robert MacNaughton completa o elenco mirim com competência, interpretando Michael. Entre os adultos, destaque para Dee Wallace-Stone, vivendo a sofrida mãe das crianças e para Peter Coyote, como Keys, o adulto que compreende o drama de Elliot. Todos os demais parecem não compreender a importância daquele ser fascinante na vida daquelas crianças (observe o olhar encantado dos três irmãos para o ET no quarto, em um belo plano de Spielberg). Pelo menos esta é a visão de Elliot, que acredita seriamente que “eles vão matá-lo”, aumentando a empatia com o público infantil ao mostrar a incapacidade dos adultos em compreender o universo da infância, mesmo que todos já tenham pertencido a ele um dia. A tensa seqüência em que os homens invadem a casa de Elliot para capturar ET também reflete esta intolerância.

O trabalho técnico do filme é igualmente espetacular. A começar pela excelente direção de fotografia de Allen Daviau, que destaca a cor azul em diversos momentos do longa, numa alusão ao espaço sideral, a casa do ET. Os efeitos visuais (mérito da Industrial Light & Magic) são sensacionais. Destacam-se os objetos voando em direção ao ET, as bolinhas representando os planetas girando em torno do sol e as duas cenas das bicicletas voadoras. O ritmo perfeito do longa, que equilibra suspense, humor, drama e ficção, é mérito também da excelente montagem de Carol Littleton. Os efeitos sonoros dão vida a cada movimento de ET (repare sua respiração), num trabalho absolutamente perfeito. E claro, o maior destaque vai para a sensacional trilha sonora de John Williams. Linda, encantadora, mágica e inesquecível (às vezes não existem adjetivos suficientes), conta com uma música tema poderosa e ainda pontua toda a trama com variações dela, além de utilizar outras composições magníficas.

Como não poderia deixar de ser em um filme desta qualidade, ET conta ainda com cenas absolutamente inesquecíveis. De que outra forma poderíamos descrever a belíssima seqüência em que Elliot e ET voam pela primeira vez de bicicleta, passando em frente à lua? É um casamento perfeito entre direção, efeitos visuais e trilha sonora, criando uma cena mágica. A cena da “morte” do ET e sua volta à vida é linda e extremamente tocante. Já a ação fica por conta da fuga de Michael, Elliot e ET no furgão e, posteriormente, a fuga de bicicleta com todos seus amigos. E finalmente, a segunda seqüência em que as bicicletas voam nos brinda com outro momento mágico e inesquecível. Quando vemos o close nos olhos de ET, já sabemos o que vai acontecer devido à primeira cena e a satisfação no espectador é inevitável.

É difícil conter as lágrimas com o comovente final de “E.T., O Extraterrestre”. A amizade do garoto com o extraterrestre é sincera, pura e absolutamente marcante. Este é um filme que embalou os sonhos de uma geração, e é interessante notar que não envelheceu, se tornando ainda melhor com o passar do tempo. Spielberg contou com um elenco infantil espetacular, uma equipe talentosa e com sua enorme criatividade para criar uma obra que fala para todas as idades de uma forma singular e emocionante.

Texto publicado em 15 de Dezembro de 2009 por Roberto Siqueira


Publicado em Críticas, Videoteca do Beto Tagged: Drew Barrymore, Peter Coyote, Steven Spielberg

Viewing all articles
Browse latest Browse all 3